Encontrando um bom criador de cães

O que é um bom criador, e como encontrá-lo?

Vou começar pelo mais fácil: como encontrá-lo. Isso já foi um grande problema, mas hoje em dia, com a facilidade de comunicação, internet e revistas especializadas em cães, ficou mais fácil. Se a sua cidade tem um Kennel Clube, comece por aí, entre em contato e peça indicações. Você também pode procurar clubes nacionais ou estaduais da raça que deseja (nem sempre existem) e fazer o mesmo. Você pode ir numa exposição de cães (o Kennel da cidade pode dizer quando vai ter uma) e procurar os criadores. Você pode procurar diretamente pelos sites dos criadores ou em anúncios em revistas. Você pode pedir indicação para veterinários ou para donos de exemplares da raça que deseja. Nós não indicamos a compra de filhotes em pet shops ou feiras.

Uma vez encontrados alguns criadores (sempre contate mais de um), falta descobrir se são bons. Para isso vamos a algumas dicas:

1. Veja se ele tem conhecimento da raça.

Eu ia colocar em primeiro lugar “amor pela raça”, mas seria um erro, já que quando falamos em “criação”, apenas amor não basta. Muitas pessoas amam verdadeiramente a raça que possuem, mas por falta de conhecimento acabam prejudicando o futuro da mesma, fazendo cruzamentos errados ou cruzando exemplares que não deveriam reproduzir.

Um esclarecimento importante é que qualquer pessoa que cruze cães se torna um criador. Isso inclui aquela vizinha que cruza seu casalzinho de salsichas uma vez por ano e diz “eu não sou criadora, só cruzo porque gosto da raça”. Do momento em que nasceram filhotes, ela virou criadora sim. É importante que as pessoas se conscientizem disso, pois colocar vidas no mundo é uma tremenda responsabilidade, e um ato que deve ser encarado com seriedade.  Quantas pessoas cheias de boas intenções cruzam labradores hiperativos, ou de cores que não se pode misturar (não é só estética, afeta saúde e temperamento), golden retrievers sem controle de displasia, rottweilers agressivos, cockers malucos, poodles com cataratas, terriers histéricos, dálmatas agitadíssimos e por aí vai, numa lista interminável. Essas pessoas são boas pessoas, geralmente até bons donos, mas péssimos criadores, já que, mesmo sem intenção, colaboram com a degeneração da raça que tanto amam (quem tem mais de 40 anos lembra do que aconteceu com os pequineses…). Então, não basta ter amor, o criador tem que ter conhecimento e responsabilidade.

Pergunte tudo sobre a raça; seu padrão físico e de comportamento, as doenças mais comuns, os defeitos e qualidades, a quem ela se adapta ou não, os cuidados necessários. Um bom criador te mostrará sempre os dois lados, até mesmo enfatizando os defeitos e dificuldades, já que geralmente são estes os responsáveis por devoluções a abandonos. Raça perfeita não existe, todas têm seus prós e contras, e nenhuma serve para todo mundo.

Desconfie de criadores que criam muitas raças, ou que mudam de raça conforme a moda.

2. Veja se ele conhece bem sua linhagem e seus cães.

Peça explicações sobre a linhagem que ele escolheu e sobre seus cães em particular.
Em todas as raças, existem várias linhagens de cães, que geralmente foram desenvolvidas pelos primeiros criadores da raça, e/ou por criadores que tinham algum objetivo específico. Muitas vezes a diferença é física, mas geralmente diz respeito ao temperamento, coisa que influenciará decisivamente a relação do filhote com seu novo dono. Um bom criador sabe as características da linhagem de seus cães, suas aptidões e possibilidades. Um criador que não saiba que linhagem possui (tem uns que nem sabem que isso existe…), nem explique porque a escolheu … esqueça! Você certamente conhece alguém que levou para casa um lindo filhote de labrador tendo em mente um obediente guia de cegos, quando na realidade comprou um caçador de patos cheio de energia!

Nesta hora, o bom criador vai mostar e explicar os pedigrees dos pais da ninhada, dizer porque escolheu este cruzamento e o que espera dos filhotes. É a hora de checar os exames de saúde dos pais da ninhada. Os mais comuns hoje em dia são: radiografia coxo-femural e de cotovelos, exame de patela, exames cardíacos e exames oftálmicos. Mas isso varia de raça para raça, o melhor é pesquisar sobre a raça escolhida antes da visita para saber o que pedir.

Também é importante que ele conheça bem seus próprios cães. Pode parecer estranho para o leigo, mas infelizmente é muito comum criadores terem cães que vivem em canis ou gaiolas, e não convivem com o dono nem com sua família. Nesse caso, como ele poderá saber como é seu temperamento? São muito agitados? São calmos? Algum é medroso? Mordem? Então peça para ver os cães, peça para que sejam soltos com você para que você possa observar seu comportamento e interação, enquanto o criador descreve cada um. Isso vale tanto para raças pequenas como grandes, e mesmo para as raças de guarda. Cães de guarda não devem ser feras assassinas, devem ser cães seguros e sociáveis na presença do dono. Lembre-se que temperamento e saúde são genéticos, então os pais e a linhagem de seu futuro bebê são muito importantes.

3. Sinta se o criador está querendo se livrar logo dos filhotes.

Um bom criador cria por amor à raça, e às suas qualidades. Desta forma, a última coisa que ele/ela quer é que um de seus filhotes vá para uma família aonde não irá se adaptar e ser amado e apreciado como deve. Bons filhotes são minoria em qualquer raça, então, quem cria bem tem sempre quem queira seus “bebês” e por isso, estará mais interessado em ter certeza de que você será um bom dono do que em te convencer a comprar o filhote.

Fora isso, ele também deve ter espaço e disposição para manter os filhotes até pelo menos os 50 dias de idade. Mesmo desmamado, nenhum filhote deve sair da companhia da mãe e dos irmãos antes disso, é muito importante para seu futuro desenvolvimento.

4. Tem que ter pedigree sim.

Muitas vezes a pessoa que quer somente um companheiro pensa: não precisa de pedigree, não quero criar nem fazer exposições. Grande engano. Se você está comprando um filhote de raça, o mínimo que o criador tem que fazer é registrar toda a ninhada. Um pedigree custa hoje (janeiro de 2011) pouco mais de R$30,00, sabia? Pois é, aquela conversa que pedigree é caro é mentira de criador ruim, que vende ninhadas que não poderiam ser registradas, mas não diz isso. Ele mente, diz que é caro e aí a pessoa abre mão, achando que não faz diferença. Outra mentira comum é que o novo dono é que tem que registrar o filhote. É impossível, só o dono da cadela mãe da ninhada pode registrar os filhotes. Mesmo com cópia de todos os documentos, o comprador nunca poderá registrar seu cão, é uma regra internacional, válida em todos os órgãos da cinofilia. Mesmo assim, o pedigree garante apenas que os filhotes são puros, filhos de pais de raça. Só isso. Ele não garante qualidade, nem saúde, por isso são necessários os outros controles, o pedigree é apenas um registro genealógico. Por isso é barato. Então pense bem, você acha mesmo que um criador que não gasta R$30,00 por filhote para registrar, e com isso provar que seu filhote é puro, vai ter feito todos os exames de saúde e seleções de estrutura e temperamento que a raça exige? Ele vai ter gasto em vermífugos e vacinas de qualidade? Ele usa alimentação de qualidade? Será?

Outra situação é a da pessoa que não registra a ninhada porque acha que não é criador (aquela vizinha dos salsichas mencionada no início do texto, lembra?), que pedigree é bobagem, o que importa é o amor pelos bichinhos. Bom, a questão é que esta pessoa não deveria estar cruzando seus cães e vendendo filhotes, pois dificilmente terá feito os controles necessários, voltamos ao problema do item 1. Se tiver feito tudo, menos o registro, tudo bem, mas sinceramente, até hoje eu nunca vi isso acontecer…

Mas se você realmente não faz questão de nada disso, tudo bem, realmente é muita coisa para checar só para ter um cãozinho em casa, mas então não compre um filhote teoricamente de raça, adote um focinho carente, ele te fará tão feliz quando o de raça e não dá esse trabalho todo para escolher. Mas, se é para ser de raça, que tenha tudo direitinho, se não, não faz sentido. Por que comprar um filhote sem nenhuma garantia de origem, saúde, estrutura ou temperamento da raça escolhida? Se é para ser loteria, volto a dizer, melhor adotar.

5. Você poderá contar com o criador no futuro?

Por mais que você estude e pergunte, dúvidas surgirão, e imprevistos também. Um bom criador se mostra disponível para te ajudar e assessorar durante toda a vida de seu filhote. Alimentação, exercícios, treinamento, exposições, acasalamentos, você pode resolver fazer um monte de coisas com seu filhote, e precisará de alguém experiente para lhe ajudar a tomar decisões e escolher o melhor para ele. Os assuntos de saúde devem sempre ser tratados por seu veterinário de confiança, mas um criador experiente poderá te ajudar a enfrentar eventuais problemas com mais segurança. Fora o fato dele conhecer bem a linhagem e a família de seu cão e poder dar ao veterinário informações que de outra forma ele não teria acesso. Se você nunca precisar dele, ótimo, mas ele tem que ser disponível.

6. O preço dos filhotes condiz com tudo isso?

Agora você já tem uma idéia de como funciona uma criação correta. O bom criador só usa cães dentro do padrão, faz exames de saúde, testes de temperamento, não acasala cães com faltas para a raça, registra seus filhotes (a maioria microchipa também), usa boa alimentação, bons remédios e boas vacinas. Estuda a raça, vai a eventos, conversa com as pessoas, enfim, dedica uma parte de sua vida e seu tempo a seus cães. Quanto custarão esses filhotes? Infelizmente não tenho como responder, até porque tudo isso varia de raça para raça e até de estado para estado, mas leve em conta que esse filhote não poderá custar R$300,00 (trezentos reais), como aqueles do anúncio no jornal. Mesmo o criador que não vive da criação (na minha opinião, o ideal), precisa pelo menos repor parte do investimento que faz e dos gastos que tem com seus cães, então deverá cobrar um preço justo por seus filhotes. Leve em conta que seu cão deverá viver uns 12 anos, então o preço de custo dele será o menor dos seus gastos.

Mais uma vez vou lembrar: você não quer nada disso? Achou tudo um exagero? Tudo bem, adote um filhote sem controle, mas não compre. Não ajude os fabricantes de cães a produzirem filhotes que muitas vezes terão problemas sérios de saúde e/ou de temperamento para ganhar dinheiro fácil. Milhões de cães são sacrificados em abrigos todos os anos, e um grande número destes nasceu na casa ou canil de alguém, não nas ruas. A única forma de acabar com a criação e o comércio indiscriminados de cães é através da conscientização dos compradores. Bons criadores são necessários, pois sem eles as raças acabariam, aliás, sem eles as raças nem existiriam. São pessoas dedicadas, apaixonadas e perseverantes, que merecem todo apoio e respeito.

Daniela Prado
www.lordcao.com

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